domingo, 17 de março de 2013

Roda do Ano - Parte 1




Durante uma viagem de trem, com meu amigo Rodrigo Ricardo e outras pessoas, surgiu à necessidade de explicar a nossa religião; eu não sou a primeira e nem serei a ultima wiccana pega nessa “saia justa”, mesmo em uma conversa informal é complicado escapar quando o assunto já foi estabelecido... não dá simplesmente pra dizer “então é complicado... te explico outra hora...” quando se tem quase 2 horas de percurso pela frente. Todo mundo tem aquela tia chata, o primo curioso, o amigo neófito... e muitas vezes ate quem já esta no caminho sente a necessidade de repassar tudo outra vez (mim), porque somos assim!!! Eternos aprendizes.

            A primeira ruptura, e talvez a mais difícil de aceitar, é que não temos uma instituição que decida por nós no que iremos acreditar ou não e o que podemos ou não podemos fazer; pode parecer exagero meu, mas é ai que começa a cama de gatos; as pessoas estão acostumadas a receber o conhecimento pronto... para algumas pessoas é inimaginável a existência de uma religião sem a “estrutura” adotada pelo cristianismo (note que não estou dizendo que não temos dogmas ou “regras”), existe muita discussão sobre quem são os wiccanos e as principais tradições, mas vou me ater ao que aprendi ate o momento, com base unicamente nas minhas práticas espirituais pessoais e algumas vezes compartilhadas com meus amigos que me ensinaram e ensinam muito...

Eu sou Pagã e Wiccana. Escolhi acreditar (tenho fé) que fui criada por uma energia com duas polaridades – Feminina e Masculina - e a essas polaridades dei o nome de Deusa e Deus (simplificando muito... lembre-se que estou no trem). Celebro a mudança das estações, com cânticos, danças, meditações, festas, rituais entre outras formas; Celebro, portanto o giro da Roda do Ano.

A Roda do ano pode ser compreendida por qualquer pessoa que souber os conceitos de Representação, Simbolismo, Mito e tiver alguma percepção do mundo/natureza que o cerca... ( =P 2ª dificuldade na conversa)

Conceito de Representação: s.f. Ato ou efeito de representar. / Exposição, exibição. / Idéia que concebemos do mundo ou de uma coisa. / Ato de representar, de desempenhar papéis em teatro: representação de uma comédia, de um drama. / Reprodução por meio da escultura, da pintura, da gravura: representação de uma batalha. (..)

Conceito de Simbolismo: s.m. Conteúdo ou interpretação dos símbolos. / Sistema de símbolos que expressa fatos ou crenças de um povo. / Sistema de signos escritos cuja articulação se dá segundo regras, e que traduz visualmente a formação de um raciocínio.

Conceito de Mito: s.m. Narrativa popular ou literária, que coloca em cena seres sobre-humanos e ações imaginárias, para as quais se faz a transposição de acontecimentos históricos, reais ou fantasiosos (desejados), ou nas quais se projetam determinados complexos individuais ou determinadas estruturas subjacentes das relações familiares. / Fig. Coisa fabulosa ou rara: a Fênix dos antigos é um mito. / Lenda, fantasia. / Fig. Coisa que não existe na realidade.

Conceito de Mundo: s.m. Conjunto de tudo que existe. / Terra, lugar onde vive o homem. / Fig. Conjunto de todas as crianças. / Número indefinido de pessoas. / Conjunto de indivíduos que formam um agrupamento humano determinado. / Conjunto de pessoas notáveis pela sua origem, pela fortuna, pela situação social. / Vida secular: trocar o mundo pelo claustro. // Ir para o outro mundo, morrer. // Todo (o) mundo, a totalidade ou a maioria das pessoas. // Velho Mundo, Europa, Ásia e África. // Novo Mundo, a América. // Fim do ou de mundo, lugar afastado. // Correr mundo, viajar muito. // Homem, mulher do mundo, homem ou mulher que tem o hábito de freqüentar a boa sociedade, que conhece os hábitos elegantes. // Pôr no mundo, dar à luz, fazer nascer. // Um mundo de..., uma grande quantidade. // Vir ao mundo, nascer. // (...)

Conceito de Natureza: s.f. Conjunto de coisas que existem realmente. / Mundo físico. / Condição própria, essência dos seres. / Organização de cada animal: a natureza do peixe é viver na água. / Conjunto de caracteres particulares, de disposições que distinguem um indivíduo. / Espécie, tipo: objetos de natureza diferente. // Teologia cat. Estado de natureza, estado natural do homem (por opos. a estado de graça).

(conceitos retirados do Aurélio Online).

...pois é... Ate ai o pessoal já estava babando de curiosidade pra saber o que era essa bendita Roda do Ano (me compliquei). Antes do Mito dei um exemplo simples, rememorando as primeiras lições de ciências na escolinha... Já fizeram a experiência do Feijão plantado no algodão?! A Tia basicamente orientava a molecada a plantar alguns grãos de feijão no algodão e outros na terra, regar periodicamente, manter na luz do sol e acompanhar o desenvolvimento do grão em plantinha.


Já li diversas versões do Mito da Roda do Ano, algumas super elaboradas e outras mais simples, mas todas com muita riqueza no simbolismo. Usando então o poder da abstração (que é inerente a todos os seres humanos), sabendo que os Deuses são primeiramente ENERGIA e com meu exemplo do desenvolvimento das plantinhas na cabeça, temos metade do caminho percorrido, pois todos os mitos da roda do ano estão centrados nas figuras da Deusa e do Deus, que representam os princípios fundamentais da natureza.

Ela (a Deusa) é a própria Terra e mãe dos frutos, Ele (o Deus) é o sol e senhor da energia vital, juntos são os detentores do poder da criação. A Roda do ano assim como tudo no mundo é infinita, mesmo a planta que morre alimenta e aduba a terra; a morte é sempre o começo de outra vida, porque sempre existira o vestígio do que aqui existiu. A Roda do ano é, portanto e basicamente a mudança das estações do ano.

No mito, partindo do final do inverno, a Deusa e o Deus estão retornando da sua jornada anterior, a Terra se recupera da estação infrutífera e de seu recolhimento e o Sol brilha timidamente no céu se aproximando da terra; esse é o momento em que o Deus nasce da Deusa e é por ela alimentado, ensinado e protegido.

            O tempo passa e é chegada a primavera, o Deus-Sol esta renovado e ganha força e calor, e a Deusa-Terra que havia se recolhido esta novamente jovem e fértil, ela esta plena e derrama seu sangue sagrado sobre a terra e todas as coisas. A semente é plantada pelo Deus no útero da Deusa, ela guarda então a promessa do retorno da vida e o Sol nutre e protege a Terra em sua plenitude.

            Passada a Dança da primavera, o outono se aproxima juntamente com as primeiras colheitas, a força do Deus-Sol vai diminuindo e ele inicia seu caminho ao submundo, os últimos grãos são colhidos para fornecer a energia necessária para o inverno que se aproxima. O Deus-Sol-Pai faz a travessia, mas estará novamente vivo no útero da Deusa. A Deusa-Terra-Mãe recolhe-se e aguarda o momento para reiniciar o novo ciclo dando a luz novamente ao Deus-Sol.



            Bonito, né?! E é principalmente SIMPLES. Os mitos são necessários em todas as religiões, é isso que as torna “possíveis” e passives de gerar a fé... Entretanto não adianta nada um mito que VOCÊ não consiga dar nenhuma aplicabilidade no cotidiano (já que a função do mito é demonstrar alguma coisaaaaaaa!!!) pra mim ser Pagã é antes de mais nada um estilo de vida, não é fazer poções e encantar pessoas, é saber que tudo que eu acredito de alguma forma esta ligado as minhas decisões, seja na maneira em que me visto, no que eu bebo ou no que eu como em determinadas épocas do ano... comer feijoada, em um puta pico de verão, vestindo uma blusa de frio e galochas não faz o menor sentido pra mim.


É isso, eu não tinha a intenção de escrever um texto tão longo, mas aconteceu. ^^








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Autor(a): 
Jak-Sofia.
www.dancando-no-ar.blogspot.com

Referencias:
Priberam (dicionário virtual)
www.priberam.pt